Professor vaza questões do “Exame de Ordem” do Japão

Exif_JPEG_PICTURE

Um local aleatório de realização do Exame

Depois de muitos meses sem publicar nada no blog, nada como retornar no melhor espírito dessa página, que é mostrar um pouco do lado menos conhecido do Japão.

E nada melhor do que falar do “Exame de Ordem”, tema sobre o qual já comentei aqui, e também no blog do Prof. Rodrigo Kanayama na Gazeta do Povo. A notícia é meio antiga, mas é relevante para esse Blog.

Vamos aos fatos. Em setembro deste ano descobriu-se que um professor da Law School da Universidade Meiji, e que também é membro da comissão que elabora o Exame de Ordem japonês, responsável pela elaboração e correção de questões discursivas de Direito Constitucional, vazou questões para uma aluna. É sempre bom lembrar que o Exame de Ordem aqui seleciona aqueles que vão ingressar não só na advocacia, mas também na magistratura e promotoria. Ou seja, carrega um peso ainda maior do que no Brasil.

Esse professor, Aoyagi Kouichi, de 67 anos, sugeriu para uma aluna (na faixa etária dos 20 anos) que se eles se tornassem “mais amigos”, ele poderia revelar para ela as questões que elaborou para a prova. Esse comportamento parece ser recorrente. Outra aluna disse à promotoria que recebeu notas muito altas do professor em provas que nem sequer tinha feito com tanto cuidado. Em seguida ele a convidou para vistar sua sala, e também chamou-a abertamente para um encontro. Uma aluna do ano passado disse que ele sempre mandava emails convidando para visitar sua sala, chamando para sair, e dava notas estranhamente altas. Outra aluna, do ano retrasado disse que o professor mencionou que, se eles “se conhecessem melhor”, ela poderia ter vantagens no Exame. E existem mais relatos nesse sentido, mas nessa altura já deu para ter uma ideia.

Enfim, uma das alunas tirou uma nota muito alta nas questões elaboradas por esse professor, no exame aplicado em maio de 2015, em descompasso com o resto da prova e acima da média dos demais alunos. O Ministério da Justiça (que por sinal não se chama Ministério da Justiça em japonês ! Mas isso fica para outro post) e a comissão do Exame suspeitaram da relação entre os dois, iniciaram uma investigação e logo ambos confessaram.

O professor foi indiciado por violação do dever de confidencialidade, previsto no art.100 da Lei dos Funcionários Públicos Nacionais (que é aplicável não só aos funcionários de carreira, mas também aqueles que exerçam uma função temporária). A pena máxima é de um ano de prisão e multa de 500 mil ienes ( pouco menos de 5 mil dólares). Não é muito, ele certamente não irá preso pois a prática geral é suspensão condicional da pena. O maior dano realmente foi a sua imagem. Perdeu o emprego, e basta dar uma olhada nos fóruns japoneses para perceber que seu nome não remete mais a um consagrado constitucionalista, e sim a um professor pervertido.

No caso da aluna, a investigação concluiu que ela não revelou as questões para mais ninguém, então considera-se que a lisura do processo seletivo não foi comprometida. Ela foi proibida de prestar a prova por 5 anos.

 

Como e porque fui parar na NHK

nhk

Vou aproveitar o blog para fazer um pouco de auto-propaganda, mas ao menos será algo meio intimista.

Comecei a trabalhar em novembro da NHK World Radio como tradutor e locutor de notícias. O trabalho é literalmente esse, chego lá, traduzo as últimas notícias e corro para o estúdio. Atuo no noticiário gravado às 21h (horário do Japão) de segunda-feira, transmitido no dia seguinte às 5:30 da manhã, e no noticiário de terça-feira, ao vivo às 18:00.

Eu sempre quis trabalhar com tradução (tanto que tentei concurso de tradutor juramentado de japonês em 2011, que não deu muito certo), mas locução nunca fez parte dos meus planos. No final das contas está se mostrando umas dos, senão o trabalho mais interessante que já fiz. Desde o primeiro ano do curso de Direito estagiei em escritórios de advocacia, e tirando alguns meses em que trabalhei como tutor de português na Universidade Soka, o meio do Direito, o meio acadêmico, escritórios e fóruns (Fori?) foi o que sempre conheci.

Decidi tentar o processo seletivo por recomendação de um amigo, somado ao fato de que recebi a chamada de candidatos no newsletter da Todai, que era bem explícito em dizer que não era preciso experiência. Se o trabalho parecia interessante e uma boa mudança de ambiente, porque não tentar?

Esse ambiente da mídia, escritórios enormes, estúdios, receber notícias com pouco mais de uma hora para traduzir e ainda transmitir tem sido uma ótima mudança. Não vou me fazer de inocente, eu mal comecei e não posso garantir que não é deslumbramento de iniciante. Mesmo assim, o fato de ter excelentes colegas e amigos no trabalho me dá boas expectativas para o futuro.

Também existe uma satisfação interna e meio nostálgica que vem da minha adolescência. Nos tempos em que a internet ainda era limitada e lenta, meu contato com o Japão acontecia principalmente pela TV a cabo, e justamente pela NHK World. Confesso que na época achava em geral bastante chato, afinal, uma pessoa de 14, 15 anos não quer assistir noticiários (que compunham boa parte da grade horário), então tinha que me contentar com Pythagora Switch, tentar acordar cedo no domingo para assistir Taiga Dorama ou ainda assistir o Kohaku uma vez no ano. De qualquer forma, a NHK sempre foi uma das poucas ligações que eu tinha com o “Japão real”, então ela sempre fez parte do meu imaginário, e nesse sentido trabalhar lá não deixa de passar um enorme sentimento de realização.

Acredito que Fuurinkazan foi o Taiga Dorama que mais assisti 

Acredito que Fuurinkazan foi o Taiga Dorama que mais assisti

Como bom jurista, também me interesso por saber o que é a NHK. NHK é abreviação de Nippon Housou Kyoukai (日本放送協会), ou seja, Companhia de Radiofusão do Japão, um serviço público de rádio e televisão. É uma categoria especial de pessoa jurídica independente regulada e criada pela Lei de Radiofusão, financiada por uma tarifa que deve ser, via de regra, obrigatoriamente paga por todo mundo que possui televisão ou rádio (aparentemente hoje de todos os detentores de aparelhos obrigados a pagar a tarifa, apenas 75% o fazem). São cerca de 13.000 ienes anuais pelo serviço terrestre e 24 mil pelo serviço terrestre e via satélite. A lei não define as punições para quem não pagar, e sei que existe ações judiciais que questionam a questão, mas confesso que não me aprofundei (ainda) no tema. Se tivesse algum administrativista no Japão, seria interessante pesquisar a natureza jurídica dessa tarifa (imagino que no vocabulário jurídico brasileiro é tarifa, e não taxa), mas não vou me alongar nessas questões jurídicas, ao menos não nesse post.

Além disso, o orçamento da NHK é definido pelo Parlamente Japonês, que também indica os 12 membros da Comissão Administrativa que supervisiona a empresa, que é administrada pelo Presidente, Vice-Presidente e mais 10 diretores. O Chefe da Comissão é o equivalente ao CEO, enquanto o Presidente é o COO.

Para quem tiver interesse, os programas podem ser ouvidos no seguinte site, na sessão Radio/Podcast: http://www3.nhk.or.jp/nhkworld/portuguese/top/

Além dos noticiários há também programas de variedade e curso de japonês.

Custo de vida em Tokyo – Quanto é o custo médio e como se compara ao Brasil

Lista do The Economist

Lista do The Economist

Durante muito tempo Tokyo ocupou o posto de cidade com o maior custo de vida no mundo. Em 2014 a cidade foi não apenas “destronada” por Cingapura, que agora ocupa o topo, como perdeu 5 posições, ficando atrás de Paris, Oslo, Zurique e Sydney, ocupando agora o sexto lugar  junto com Caracas, Genebra e Melbourne (dados retirados do último relatório do The Economist Inteligence Unit cujo resumo pode ser conferido aqui).

Mesmo com a perda de posições, as estatísticas do custo de vida em Tóquio ainda são um pouco assustadoras. Entretanto, esses dados médios nem sempre correspondem ao que se efetivamente se experimenta ao viver no local, especialmente considerando que os preços variam até mesmo dentro da cidade, conforme a região, a distância do centro e etc. E claro que estudantes sempre tem um jeito de viver com muito menos que o cidadão comum.

Vou falar portanto dos custos gerais por aqui, e como eles se comparam aos custos no Brasil, e comento também um pouco de como contorno esses custo de vida alto com opções mais baratas que a média.

Antes de entrar nos números, preciso mencionar que utilizei os valores gerais com base em um site muito interessante chamado Expatistan, que compara o custo de vida em várias cidades do mundo. Vou utilizá-lo como base para essa comparação, mas já aviso que se é confiável no geral, tem alguns pequenos e outros não tão pequenos erros.

Segundo o site (link aqui), Tokyo é no geral 72% mais cara que Curitiba (e apenas 29% mais cara que São Paulo). Como sou de Curitiba, vou usar a cidade como base de comparação, mas para quem quiser ver como seria em sua cidade, é só acessar o site e alterar o critério de busca.

Ps.: Nas tabelas o primeiro preço, em Iene, é o de Tóquio, o segundo de Curitiba, e o terceiro número é o quão mais caro (+) ou mais barato (-) é Tóquio em comparação com Curitiba.

Ps2.: Vou marcar em vermelho todos os valores que eu considerar errados, e vou gradualmente corrigindo tudo com base nas minhas observações e nas observações dos leitores. A ideia desse post é que ele seja dinâmico, vá sendo modificado com o tempo, acrescentando e atualizando valores.

Ps3.: No momento da elaboração dessa lista minha renda era de ¥146.000. O suficiente para sobreviver e sobrar alguma coisa, fazendo um bom de controle de gastos.

1) Alimentação: Tokyo é 63% mais cara que Curitiba

Menu do dia em bairro comercial ¥875 (R$ 19) R$ 18 +5%
Combo Big Mac ¥640 (R$ 14) R$ 18 -22%
1/2 Kg de peito de frango ¥547 (R$ 12) R$ 6 +91%
1 litro de leite ¥201(R$ 4.38) R$ 2.20 +99%
12 ovos ¥258(R$ 5.62) R$ 3.97 +42%
1 kg de tomate ¥595 (R$ 13) R$ 4.56 +184%
500 gr de queijo local ¥971 (R$ 21) R$ 11 +96%
1 kg de maçã ¥619 (R$ 13) R$ 3.57 +277%
2 kg batata ¥693 (R$ 15) R$ 3.67 +312%
0.5 l de cerveja (marca doméstica) ¥283 (R$ 6) R$ 3.20 +93%
1 garrafa de vinho tinto, boa qual. ¥1,576(R$ 34) R$ 27 +26%
2 l de Coca Cola ¥285 (R$ 6) R$ 4.29 +45%
Pão, 2 pessoas, 1 dia ¥225(R$ 4.91) R$ 2.95 +66%

Como podemos ver, só o combo do Big Mac é mais barato por aqui. Meu único questionamento é com relação ao primeiro item da tabela. O valor de Curitiba é razoável se considerarmos restaurantes por kg inclusos, mas que eu me lembre, via de regra o “prato do dia” em qualquer restaurante de padrão normal não sai menos de R$ 20,00…

Dito isso, meu gasto com comida é mais barato que a média de Tokyo. Em primeiro lugar, tenho acesso aos restaurantes e refeitórios da Universidade de Tóquio, onde uma refeição varia de algo em torno de ¥ 320 (R$7) à ¥510 (R$11,20). Para café da manhã ou lanche, um pacote com 8 fatias de pão de leite fica ¥98 (R$ 2,15) e 7 fatias de queijo (processado) ficam em torno de ¥180 (R$3,95). Para quem cozinha é possível balancear bem os gastos, e assim dá para sobreviver, em matéria de refeição, em um dia com menos de ¥ 1000. Claro que que ainda temos todos os lanches necessários e desnecessários ao longo do dia (no meu caso café e “shittori”, mas isso fica para outros posts)

写真 (1)

Não se engane, isso não é uma refeição normal

2) Habitação: Tokyo é 63% mais cara que Curitiba

Aluguel – 85 m2 mobiliado ¥318,988(R$ 6,954) R$ 2,403 +189%
Aquecimento, água, luz, 2 pessoas ¥17,536(R$ 382) R$ 164 +133%
Internet 8MB (1 mês) ¥4,015(R$ 88) R$ 85 +2%
TV de 40” ¥78,604(R$ 1,714) R$ 1,784 -4%
Microondas 800/900 Watt ¥27,811(R$ 606) R$ 336 +80%
Sabão em pó ¥416 (R$ 9) R$ 14 -36%
Diarista 1 hora ¥2,072(R$ 45) R$ 16 +176%

No meu caso o custo é evidentemente menor. Moro em uma quarto de 15m²(com banheiro) no The University of Tokyo International Lodge Komaba Lodge, Main cujo aluguel custa ¥48.900, mais ¥ 1.500 pelo uso das áreas comuns, ¥1.200 pela internet e ¥ 2.000 pelas “utilidades” (energia elétrica e etc) das áreas comuns.

Uma das questões mais interessantes no meu alojamento é a cobrança de aquecimento, águas, gás e energia elétrica dos quartos individuais, feito a partir de um sistema pré-pago em que são feitas cargas de no mínimo ¥1.000 em um painel no térreo do Lodge, e que são controladas em um contador instalado na parede do quarto. O contador diminui de  ¥100 em  ¥100, e é uma forma bem prática de ter uma noção mais precisa do custo de um banho, ar condicionado e etc.

O famoso contador, com míseros 400 ienes sobrando

O famoso contador, com míseros 400 ienes sobrando

3) Vestuário: Tokyo é 26% mais barata que Curitiba

1 par de Jeans (Levis 501 ou similar) ¥7,047(R$ 154) R$ 213 -28%
1 vestido de verão (Zara, H&M, …) ¥5,421(R$ 118) R$ 162 -27%
1 par de tênis (Nike, Adidas, or similar) ¥7,948(R$ 173) R$ 292 -41%
1 par de sapato de couro ¥10,092(R$ 220) R$ 222 -1%

Esse é o único ponto em que Tokyo é mais barata que Curitiba: vestuário (especialmente de marcas conhecidas). Ressalto ainda que até mesmo as roupas que não são de marcas conhecidas também costumam ficar mais em conta por aqui. De camisetas e camisas de que custam o equivalente a R$ 10 ou R$ 20 reais na Uniqlo, até as peças de vestuário de segunda mão que são muito populares no Japão.

4) Transporte: Tokyo é 53% mais cara que Curitiba

Volkswagen Golf 2.0 TDI 140 CV 6 vel. ¥2,500,000(R$ 54,498) R$ 50,517 +8%
1 litro de gasolina ¥152(R$ 3.32) R$ 2.88 +16%
1 mês de transporte público ¥10,679(R$ 233) R$ 132 +76%
Taxi, tarifa básica, 8 Km ¥2,553(R$ 56) R$ 24 +130%

Não entendo absolutamente nada de carro, mas tenho lá minhas dúvidas sobre os valores obtidos no site. Porém, pulando esse item, vou direto ao ponto que me interessa: transporte público.

Como já comentei em outros posts, o valor da passagem de trem, metrô ou ônibus varia conforme a linha, distância e companhia. Por exemplo, do local onde moro até a estação de Shibuya, por meio da linha Inokashira operada pela empresa Keio, são  ¥124 (os mesmos exatos R$2,70 que é a passagem de ônibus em Curitiba), mas são meros 1,8 km. Os 9km de Shibuya até a Universidade de Tokyo custam, por outro lado,  ¥195 (R$4,26), trajeto esse que exige o uso de duas linhas de metrô (Ginza e Marunouchi), ou seja, quase R$ 14,00 ida e volta (apesar de que o primeiro trecho percorrer a pé, então tem uma redução significativa do custo).

5) Cuidados Pessoais: Tokyo é 53% mais cara que Curitiba

Remédio para resfriado suficiente para 6 dias ¥1,280(R$ 28) R$ 17 +66%
Desodorante ¥651 (R$ 14) R$ 9 +60%
Shampoo 2 em 1 ¥473 (R$ 10) R$ 15 -31%
4 rolos de papel higiênico ¥142(R$ 3.09) R$ 4.53 -32%
Pasta de dente ¥242(R$ 5.28) R$ 4.09 +29%
Corte de cabelo masculino ¥4,065(R$ 89) R$ 25 +257%

Nessa parte de cuidados pessoais eu não sinto um impacto tão grande, corto cabelo em salão mais em conta (em torno¥1800), mas, de fato, a média é bem cara, acima de ¥4000. Com uma boa pesquisa os demais produtos podem sair na mesma faixa do Brasil, e Shampoo realmente é mais barato, sabonete não foge dos valores brasileiros, enfim, é possível administrar o impacto desses gastos com muita facilidade. São gastos que não podem ser evitados, não dá para economizar na saúde e higiene, então uma boa pesquisa de preços é importante.

O Grande Gatsby

O Grande Gatsby

6) Entretenimento: Tokyo é 37% mais cara que Curitiba

Jantar para dois em pub local ¥3,989(R$ 87) R$ 65 +33%
2 entradas para cinema ¥3,590(R$ 78) R$ 35 +126%
2 entradas para o teatro (melhores assentos disponíveis) ¥20,409(R$ 445) R$ 151 +196%
Jantar italiano para 2 com vinho e sobremesa ¥6,917(R$ 151) R$ 113 +34%
1 coquetel em clube local ¥856 (R$ 19) R$ 17 +9%
Capuccino ¥412 (R$ 9) R$ 6 +41%
1 cerveja (500ml) em pub local ¥527 (R$ 11) R$ 7 +57%
iPod nano 16GB ¥28,764(R$ 627) R$ 459 +36%
1 min. de tarifa de celular pré pago ¥40 (R$ 0.88) R$ 1.19 +26%
1 mês de academia ¥10,095(R$ 220) R$ 109 +101%
1 maço de malboro ¥444 (R$ 10) R$ 5.99 +62%

Por incrível que pareça, apesar do nível e qualidade do entretenimento em Tokyo, não é tão caro como muita gente imagina.

kabuki

Porém não é tão barato, normalmente uma entrada para o Teatro Kabuki não sai por menos de 85 reais

 

Um jantar para dois não fica muito diferente aqui ou no Brasil, diferente do cinema, que pesa mais mesmo, especialmente para quem estava acostumado com entrada de estudantes, mas existem soluções. Dia 1º e dia 14 costumam ser promocionais, com entradas a ¥1100.

O que pode ficar realmente caro é sair a noite com os amigos ou happy hour com os colegas de departamento. Cerveja, por exemplo não sai por menos de 10 reais na grande maioria dos bares, mas sempre existem opções de ¥300 ou até mais barato, é só saber procurar e não se preocupar muito com a qualidade, e aguentar esperar o beber em pé.

Além disso, me interessa nesse aspecto de entretenimento especialmente o valor do café haha. São muitas lojas especializadas em Tokyo com boa variedade de grão, espressos e lattes muito bem feitos. Já estou preparando o review de vários locais que tenho frequentado e serão postados em uma página especial no blog ou em um blog novo.

O que mais estranhei na lista foi o valor do ipod nano, definitivamente é no mínimo o dobro desse valor no Brasil, depois irei corrigir com valores mais realistas.

Quanto ao celular, confesso que não faço ideia das tarifas. Utilizo um plano da Softbank com ligações ilimitadas para celulares da mesma operadora e internet 4G pelo valor de ¥6000, ou seja, cerca de R$ 130,00. Não foge muito dos valores no Brasil objetivamente, mas considerando a qualidade do serviço, e especialmente o sinal e qualidade de internet, definitivamente é muito mais barato.

Por fim, se o valor da academia aqui é quase o dobro (mas creio que esse suposto dobro é o valor cobrado nas “melhores” academias em Curitiba), estudantes tem seus benefícios. Um ano de uso liberado da academia da Universidade, com piscina, quadras , todo tipo de equipamento, aulas de Yoga, Pilates, Tai Chi Chuan, uma variedade grande de esportes, custa meros ¥8000 (R$ 174) ANUAIS. Uma pena que o local pegou fogo mês passado e está em reforma hahaha.

Acredito que isso tudo deu uma visão geral dos custos de Tokyo. Como falei anteriormente, a ideia é fazer deste um post dinâmico, com atualização de valores, correções e novas informações. Em paralelo, ainda farei um post que fala exatamente dos meus gastos, quero apenas acumular os dados por mais 2 meses para ter uma base mais confiável.

No Japão Novamente – Hanami

Sakura em Shinjuku Gyoen

Sakura em Shinjuku Gyoen

Com meu retorno ao Japão a tendência é voltar a postar no blog as entradas do tipo “diário de viagem”, junto com aqueles posts que descrevem pequenos detalhes do cotidiano.

Eu poderia (e talvez deveria) começar falando de como foi a viagem, de como é o dormitório (e o incrível sistema de fornecimento de água, luz e gás pré-pago!), meu primeiro contato com a Universidade e etc. Entretanto, por estar mais fresco na memória, vou falar um pouco do meu Hanami (contemplação de flores) solitário que realizei hoje.

O plano era simples, fazer um trajeto a pé do meu apartamento em Komaba, passando por dois hotspots para Hanami na cidade de Tokyo, o Parque Yoyogi e o Jardim Nacional Shinjuku Gyoen (que é o principal ponto de contemplação de Tokyo). Tinha planejado retornar a pé, já que a distância não seria tão grande (cerca de 5 km ou 6 km). Ocorre que eu não contava com os desvios e com o tamanho desses parques, por isso o retorno foi de trem 🙂

Pois bem, saí daqui às 9h manhã em um dia frio mas ensolarado, segui a pé até Shibuya, que fica a 15 minutos do alojamento. Shibuya é talvez o principal distrito de compras da cidade, então á fácil perder muito tempo lá. Como as lojas só abrem às 10h não tive motivos para me deter por ali, segui direto para Yoyogi. Já conhecia o parque, são mais de 500.000 m² bem no centro da cidade, mas nunca tive motivos para caminhar por toda essa extensão pois sempre achei ele um pouco sombrio em suas longas fileiras de árvores e espaços abertos povoados por corvos enormes. Hoje foi bem diferente, centenas das árvores do parque são cerejeiras cuja beleza só pode ser vista nessa época.

Yoyogi

Yoyogi

 

Essa beleza encontra dois contrastes interessantes. Por um lado há o contraste do estranho. Yoyogi fica ao lado de Harajuku, uma região conhecida como ponto de encontro de pessoas que se vestem de forma muito extravagante e excêntrica, e é no domingo que marcam presença na região. Por outro lado, há o contraste assustador, que é a quantidade de corvos no parque. Quem vê as imagens do Hanami imagina que toda a beleza florida é acompanhada do canto dos passarinhos, porém a verdade é que são dezenas de corvos grasnando ao mesmo tempo que criam o som ambiente. Longe de estragar a experiência, tudo fica mais… diferente.

Gente estranha saída de Harajuku

Gente estranha saída de Harajuku

Depois de explorar o parque fui até Meiji Jingu, o santuário do Imperador Meiji (cujo portal de entrada é o cabeçalho do blog, por sinal), e dali segui para Harajuku, passando pela mega lotada Takeshita Street. Como não sou uma pessoa que gosta de multidões, decidi fazer um desvio por uma rua lateral, e acabei saindo em outro santuário chamado Togo Jinja, o qual não conhecia, mas descobri se tratar do santuário em homenagem do grande herói de guerra japonês Togo Heihachiro. A grande surpresa foi que estava sendo realizado ali o que acredito ser um casamento tradicional shintoísta. Por cima de uma ponte consegui assistir o início da cerimônia ao som do Gagaku, a música típica da corte e desses rituais (aqui a partir dos 58s para quem quiser ouvir).

Takeshita Street em Harajuku

Takeshita Street em Harajuku

Dali segui então para Shinjuku Gyoen. Chegando lá me perguntei porque nunca visitei o local antes. É um parque absolutamente fascinante, são centenas (talvez milhares) de cerejeiras, ameixeiras brancas e uma série de outras árvores floridas espalhadas em grandes jardins de diferentes estilos, que vão de um cenário japonês tradicional a um ao jardim tradicional Inglês e um jardim formal francês. Tem ainda uma estufa cheia de flores e plantas de países tropicais, Okinawa, orquídias… Não há palavras para descrever a beleza do local. Deixo que as fotos falem em meu lugar.

Shinjuku Gyoen

Shinjuku Gyoen: jardim tradicional japonês

091

094

096

Já cansado, retornei para Shibuya, onde comprei um travesseiro na Muji (sim, ainda estou me equipando com coisas básicas, mas me impressiono como aqui se paga barato por produtos de qualidade excelente). Já ia voltar ao dormitório (isso às 16h, portanto foram 5 horas andando sem parar) mas como começou a chover entrei em uma das típicas lojas de departamento japonesas de 8 andares, o que foi bastante providencial, pois fiz meu primeiro amigo japonês aleatório, o Owada san ! Como não podia deixar de ser, ele era o vendedor das máquinas de café, e me abordou para apresentar uma promoção da Nespresso (que sai aqui por míseros 200 reais !), aproveitei para treinar um pouco de japonês e comecei a conversar com o sujeito. Me deparei com um cara super simpático que sabe muito sobre o Brasil, especialmente futebol, perguntou de onde eu era, conhecia dois  times da capital (óbvio que o time desconhecido era o Paraná Clube), falou muito sobre jogadores brasileiros da década de 70, 80, chances do Brasil na Copa. Enfim, a típica situação que mostra que os Japoneses podem até parecer fechados, mas quando você menos espera encontra pessoas extremamente abertas e receptivas.

Por fim, terminei meu dia comendo morangos de chocolate branco, algo que ouvi falar anos atrás, que são morangos congelados a seco, cobertos e preenchidos com chocolate branco. E não é que essa bizarrice é boa mesmo?

Morangos de Chocolate Branco

Morangos de Chocolate Branco

NihonGo! retorna ao Japão – Próxima parada: Universidade de Tokyo

logo

Esse Blog começou em 2010 com a minha viagem ao Japão como bolsista do Convênio entre UFPR/Soka Daigaku. Na época começou como uma espécie de diário de bordo, com vários impressões de primeira viagem, algumas críticas inocentes, impressões estranhas. Nunca reli a maioria dos posts e acho que discordaria do meu eu de 2010 em muita coisa. Com o retorno ao Brasil aumentei a variedade de temas, a crítica social ficou mais pesada, mas também foquei bastante na divulgação de métodos e materiais de estudo de nihongo. É um blog que claramente não tem muito foco, vive de fases.

E agora começa uma nova fase na vida do autor, e portanto do site. Retorno em abril ao Japão como bolsista de Pós-Graduação do Governo Japonês (a bolsa do MEXT, também carinhosamente conhecida como bolsa do Monbusho). Vou conduzir uma pesquisa na área de Direito Econômico na Universidade de Tokyo.

Não digo que é um sonho realizado porque nunca sonhei em estudar na Todai. Com toda essa aura lendária que a indústria cultural e a própria sociedade japonesa cria em torno dessa instituição, nunca criei falsas esperanças. Para o pessoal da minha geração certamente a idealização começa com Love Hina, Death Note, e passa pelos Doramas, filmes, que abordam mesmo que tangencialmente a dificuldade de ingresso nas Universidade Nacionais.

Quando me preparei para entrar no processo seletivo da bolsa calhou que minha linha de pesquisa batia com a dos professores da UTokyo. Mandei e-mails, recebi ótimos feedbacks, depois que passei nas provas e entrevista, acabei passando também lá, foi meio circunstancial. Não significa que foi fácil, fiz um projeto bacana, montei versões em português, inglês e japonês, enfim, fiz o que se espera de quem leva a sério um processo seletivo. Ainda assim, a ficha não caiu na época, e não caiu agora.

Pois bem, o importante é que nessa nova fase do blog prevejo que vou poder tratar de alguns temas que ainda não abordei, ou que abordei superficialmente: a verdadeira vida acadêmica no Japão, a batalha para usar o Nihongo acadêmico, dicas para passar na bolsa do MEXT, a vida no centro de Tokyo… Enfim, essas coisas que decorrem da própria experiência de vida e de academia que terei.

Bom, esse post se presta só para contar a novidade mesmo. Estou empolgado por poder melhorar o conteúdo do blog, e especialmente torná-lo mais acessível. Um problema da minha bolsa anterior é que ela era muito restrita, um aluno por ano da UFPR, os leitores que queriam aprender os caminhos para estudar no Japão não podiam usar isso como parâmetro, agora quem sabe possa produzir um conteúdo universalmente útil.

O Japão Mágico do Facebook

No Japão todos professores são samurais.

No Japão todos professores são samurais e dão aula montados em cavalos

Tenho percebido um fenômeno muito interessante no facebook (e que reflete uma tendência vista também nas correntes de email, conversas do dia-a-dia e etc), que é a disseminação de informações falsas sobre o Japão para criticar a realidade brasileira ou do “resto do mundo”.

É interessante especialmente porque revela um problema crônico e paradoxal de uma era na qual a busca de informação se tornou tão simples: a incapacidade das pessoas de buscar as fontes de uma informação, e, consequentemente, de compartilhar informações sem saber se é ou não verdade.

A situação a que me refiro especificamente diz respeito a muita coisa que circulava em emails e orkut mostrando falsas realidade japonesas, e que se manifestam novamente no facebook em duas “histórias” recentemente compartilhadas em massa: 1) A de que o professor é o único profissional que não precisa se curvar ao imperador e; 2) a de que no Japão quando os trabalhadores querem fazer greve, o fazem trabalhando mais

Isso revela duas coisas bastante flagrantes nas redes sociais, a falta de senso crítico que é o que justamente nos faz buscar a veracidade da informação, bem como a falta de familiaridade com as mais simples ferramentas de busca da internet, o que torna quase inócuo todo o benfício de ter informação disponível de graça e com abundância.

Quanto à questão dos professores, não sei de onde surgiu essa informação, de repente existe algum tipo de fundo de verdade. Óbvio que a intenção é mostrar que lá os professores são mais respeitados do que aqui. Entretanto, não vi lá uma situação ideal de respeito aos professores. Com certeza não chegaram ao nível muitas vezes de barbarie que nossos professores enfrentam, mas não é possível dizer que recebam o tratamento que merecem. Não ganham tão bem quanto se quer fazer crer, não tem muito prestígio perante a sociedade, nem sempre encontram a atenção e respeito dos alunos que essas “correntes” tentam mostrar como regra absoluta. Nem é preciso ir além da cultura pop para ver que lá professor também sofre, vide séries e animes famosos como GTO ou Yu Yu Hakusho.

No caso das greves, não passa de uma generalização de uma situação que pode ou não ter ocorrido. Não faço idéia se houve ou não, se acontece ou não, o que sei vem justamente de estudos sobre greve feitos na Universidade Soka, e que revelaram durante muitos anos um comportamento grevista semelhante a qualquer outro país ocidental (em um modelo mais europeu com data de início e fim bem definidas). Trens parando ou catracas sendo liberadas, piquete em frente de fábrica, tudo isso existe e existiu lá. Eventualmente o país deixou de ser um bom modelo de comparação, não só por sua condição econômica privilegiada, mas pela forma de organização dos sindicatos.

No Japão via de regra os sindicatos não representam categorias profissionais e sim profissionais de uma determinada empresa. Na mesma medida em que isso é propício para um diálogo mais eficiente entre as partes, é também uma forma de retirar a força de movimentos grevistas, uma vez que o impacto social da paralização de uma empresa é bem menor que de uma categoria.

Enfim, são comentários bastante singelos mas que, para mim, mostram um grande vício das informações enlatadas compartilhadas nas redes sociais. Em vez de empregar textos que revelam os “mas” e “entretantos” das afirmações, optam por colocar uma imagem impactante e uma frase de efeito, o que esvazia a possibilidade de discussão séria e revela a falta de argumento até mesmo para o brasileiro se revoltar.

Eu não tenho medo de desmentir minhas promessas no blog. Recentemente falei que traria posts mais curtos e informações mais objetivas. Mudei de idéia, vou retornar a uma outra promessa esquecida, que era postar mais detalhadamente conhecimentos obtidos na Universidade Soka.

Pois bem, durante muito tempo empreendi ( e ainda empreendo) uma jornada contra a mistificação do Samurai, contra a mistificação do Japão, pois acreidto que é uma ofensa aos méritos de uma nação criar figuras idealizadas que escondem o verdadeiro esforço necessário para chegar onde chegou. Assim, me parece ser a hora de dedicar um post aos meus questionamentos quanto ao Bushido, Código do Samurai, uma invenção quase moderna de um código anacrônico utilizada pelos próprios japoneses para domesticar a classe guerreira e depois alimentar o nacionalismo. Depois desse impacto principal todos estarão prontos para ouvir sobre as irregularidades eleitorais japoneses, as fraudes à licitações, Constituições copiadas ou quase impostas por outros países.

E tudo isso, não para desmerecer o Japão, pelo contrário, para mostrar que, com problemas as vezes parecidos e até piores que os nossos, com uma classe dominante que também rouba, que também não tem nada de muito honrada, ainda assim conseguiram chegar a um ponto que não podemos nem sonhar em atingir nas próximas décadas.

* Atualização*

Tendo em vista a quantidade grande de acessos a esse post, mas sabendo que as pessoas não leem os comentários, acrescento aqui o debate da sessão de comentários que é esclarecedora quanto à “polêmica dos professore que não se curva”

– Otakismo

“… A corrente da greve eu nunca li, mas a do professor sim. Usei alguns termos diferentes na pesquisa, e achei um site que comentou, em 2008, o artigo do historiador Euclides Paes de Almeida sobre a imigração japonesa na cidade de Araçatuba-SP. Nele, o historiador cita que o Imperador Hiroito se curvava apenas para os seus professores, mas como o artigo está fora do ar, só consegui as informações citadas no site que menciona sua existência. Então algum fundamento, ainda que apenas parcialmente correto, tem.

Mas, claro, não é respeito pelo simples respeito. Na mesma pesquisa, achei um link da Folha regional: “sem a escolinha japonesa, as crianças estariam privadas do aprendizado do Yamatodamashii – a doutrina do ‘espírito nipônico’ e do ‘modo de vida japonês’. Era na escola que meninos e meninas aprendiam o padrão de comportamento japonês – aprendiam a ser bons e leais súditos do imperador Hiroíto. E isso, os pais sabiam, nenhuma escola brasileira e nenhum professor gaijin (leia-se estrangeiro) saberia ensinar. “De todo o rosário de proibições impostas aos disciplinados japoneses residentes no Brasil, esta foi a única que eles” …

– Eduardo

Gostei muito de seu artigo, aborda vários pontos que eu gostaria de abordar. Em vista disso acho que vou optar por divulgar esse post e tentar abordar os mesmos temas com uma perspectiva diferente e acrescentar algumas questões mais detalhadas, somadas às minhas opiniões pessoais.

Quanto à questão do imperador, não li o artigo e não posso julgar o historiador, mas em face de dois dados que possuo me parece um caso de “inocência histórica/política”. Explico: a despeito das condenações de muitos criminosos de guerra, Hirohito foi poupado pela Ocupação americana por uma série de motivos mais políticos do que de ausência de culpa.Assim, ele se submeteu a muitas exigências americanas. Dentre outras medidas para reforçar a destituição de seu caráter divino, ele foi compelido a viajar pelo país e interagir com as pessoas comuns, conversando, cumprimentando com apertos de mão ao estilo ocidental e também se curvando diante de gente comum, na tentativa de colocá-lo no mesmo nível “humano” dos outros. Não me impressionaria se esse fato, somado muitas vezes à inocência dos próprios japoneses na época, gerasse boatos de que o imperador sempre tinha sido assim e etc. Pela falta dessa referencia de não se curvar aos professores em outras linguas como inglês e japonês, me parece que esse fato chegou aqui seja pelos nikkeis, por força de algum boato, seja pelos historiadores nem sempre bem informados, e acabou sendo convertida numa questão quase ideológica de que ele se curvava perante professores.

Por outro lado, não deixa de ser impossível que antes da guerra ele tenha passado essa imagem, e daí a conexão com o “porém” que você acrescentou, pois, por trás dessa frase que seria bonita “sem professores não há imperadores”, eu vejo algo não tão nobre, pois me parece mesmo significar justamente que o professor no caso é valorizado pois aliena o sujeito desde criança nesse nacionalismo e adoração do caráter divino do imperador.

Para reforçar essa opinião de que o caso de “submissão” do Hirohito é bem específico, o Edito que reformou a educação em 1890 obrigou as escolas a terem a imagem do imperador em roupas militares em todas as salas, e obrigava que alunos e professores se curvassem sempre para a imagem. Me parece que essa obrigação, e sua aceitação com naturalidade, derruba qualquer idéia de que tenha sido uma tradição o professor não se curvar ao imperador, e, de qualquer forma, não resta provado que qualquer soberano tenha tido submissão especificamente à esse profissional.”

– Otakismo

Legal, Eduardo, não conhecia essas informações sobre o Hiroito, mas ainda sim prefiro não julgar o historiador, pois como também não tive acesso ao artigo, é possível que quem o citou pode ter diluído ou mesmo distorcido a posição dele.

Acredito que Hiroito em particular se curvava para os seus antigos professores, e não para a classe dos professores em geral, daí alguém estendeu isso para todos os imperadores, professores, e mudaram a ordem da reverência…quem sabe.”

– Eduardo

“Continuei buscando mais sobre o artigo do historiador e infelizmente não encontrei nada, então não seria justo julgá-lo. Entretanto, o que encontrei mostra que sua obra se baseou nos relatos dos próprios imigrantes, o que reforça minha suspeita de que seja uma falsa informação internalizada por esse imigrantes. Curioso que isso tem muito a ver com a minha abordagem da mistificação do samurai no próximo post, já que imputo muita responsabilidade aos imigrantes, que, em sua inocência, e em sua criação absolutamente viciada pela educação absurda instituída pelos nacionalistas japoneses trouxeram uma visão bastante mistificada do Japão, e que tem sido até hoje muito valorizada como “autêntica” pois no Brasil ainda se valoriza mais a sabedoria popular do que a pesquisa científica sobre o tema.”

Quatro notícias interessantes: Reforma do Governo, Pena de Morte, Incêndio e Genialidade

4 notícias no Asahi Shinbun me chamaram a atenção nos últimos dias:

1) O Primeiro Ministro Japonês está promovendo uma reforma do Gabinete (não entendam errado, é o órgão máximo do poder executivo e não uma sala de trabalho) marcada especialmente pela troca de 5 Ministros, inclusive do Vice. Um dos principais objetivos da Reforma é alcançar a harmonia dentro do próprio partido, aproximando seu governo dos partidários do antigo secretário-geral Ozawa Ichirou, que, envolvido em diversos escandalos acabou sendo preterido pelo atual Primeiro Ministro Noda quando da escolha do nome para chefiar o Gabinete. Com isso ele espera atingir maior governabilidade . Em resumo, terão mudanças os Ministérios da Defesa, Educação (Ciência e Tecnologia), Transportes, Justiça, bem como a posição de Vice-Primeiro Ministro.

http://www.asahi.com/politics/update/0113/TKY201201130548.html

2) Consequência prática direta dessa mudança é a postura do Ministério da Justiça. No Japão as penas de morte dependem de autorização do Ministro da Justiça, e o ocupante do cargo desde Julho de 2010 os Ministros da Justiça Japoneses não autorizam execuções, o que Começou com a postura crítica à esse tipo de pena adotado pela Ministra Chiba Keiko. Isso aparentemente vai mudar, pois o novo Ministro, Ogawa Toshio, já afirmou que a execução da pena de morte é uma responsabilidade que deve ser assumida pelo Ministério da Justiça.

http://www.asahi.com/politics/update/0113/TKY201201130542.html

3) Quando eu fui para Kyoto visitei uma montanha chamada Montanha dos Macacos, uma espécie de zoológico em que macacos japoneses ficam completamente soltos. Bom, houve um incêndio no local causado por 5 jovens com fogos de artifício. Aparentemente o dano foi considerável e alguns macacos ficaram feridos.

http://www.asahi.com/national/update/0108/OSK201201080058.html

4) No aniversário do novo  supremo líder da Coréia do Norte, Kim Jon-un, no dia 8 de janeiro, foi exibido um documentário retratando ele como O gênio entre os gênios, apresentando como é o mais apto a líderar o país, como foi o melhor aluno já visto na academia militar. Parece que estão tentando fazer ele ser ainda melhor que o pai, que segundo os noticiários coreanos conseguiu, entre outras façanhas, em sua primeira partida de Golf, completar o circuito de 18 buracos em 38 tacadas, incluindo 11 hole-in-ones. Fascinante.

http://www.asahi.com/international/update/0108/TKY201201080210.html

Regras escritas e não escritas do Japão que poderiam ser seguidas no Brasil

Existe uma série de regras no Japão, que derivam da lei ou do costume, e que são ignoradas por aqui, ou pior, aplicadas de forma oposta, e que, pesando os prós e contras deveriam ser revistas pelo povo povo brasileiro. Vou apontar algumas que me fazem muita falta.

Cigarro: Lá não é proibido fumar em locais fechados, como é em Curitiba. Lá é proibido fumar em locais abertos, andando na rua. Quem quer fumar vai para um dos diversos locais designados para tanto. Pior do que ir à um restaurante com área reservada para fumantes (que no final das contas nem incomoda, se devidamente planejada) é andar na rua e receber as baforadas de cigarro na cara. Só eu acho o cúmulo da falta de educação e consideração alguém fumar andando (ou parado no ponto de onibus, seja lá onde for) deliberadamente expelindo a fumaça de cigarro com a plena consciência de que isso vai atingir diretamente a cara de um provável não fumante?

Bicicleta: Bicicleta no Japão não divide espaço com carro. Sinceramente, acho essa reivindicação dos ciclistas brasileiros um pouco fora de propósito. Não acho que o desrespeito é correto, mas também não acho que o lugar da bicicleta seja no asfalto, junto dos veículos motorizados. No Japão as bicicletas dividem pacificamente o espaço com pedestres, mesmo em calçadas extremamente estreitas. Não me lembro de ter vistovias exclusivas para bicicletas, a não ser nas faixas de pedestre que sempre tem a faixa para pessoas e a para bicicletas.

Me parece que isso sequer é cogitado no Brasil porque existe uma subversão da vitimização da parte mais fraca. A parte mais fraca por aqui muitas vezes parece querer, além de direitos e privilégios (sejamos justos, em geral legítimos) o poder de ser respeitado sempre e não respeitar ninguém. O pedestre é o maior exemplo disso. Passa tanto tempo acuado pela brutalidade dos carros que perde a sensibilidade e acha que pode exigir o respeito quando atravessa fora da faixa, em ponto cego, e, evidentemente, acha que o ciclista é o invasor do império da calçada.

Escada Rolante: Ao utilizar a escada rolante no Japão, se não estiver com pressa você imediatamente se coloca à direita da escada (ou esquerda dependendo do local). Assim que está com pressa pode passar “correndo” pelo lado esquerdo. Não temos essa consciência aqui porque, novamente, o individualismo e essa necessidade de ser respeitado mas não respeitar faz com que muitos se julguem donos de espaços públicos pelo simples fato de que, estando utilizando de forma legal acreditam que não existe limite para seus direitos. E que estiver com pressa que use as escada normais, porque as escadas rolantes obviamente foram criadas para que todo mundo pudesse descansar, esticar os braços e colocar a conversa em dia.

Trem: Existe uma série de regras ao entrar em um trem (ou esperar para entrar) que deveriam ser seguidas por aqui. Primeiramente, se voce está com uma mochila, deve colocar ela imediatamente para a frente, assim você ocupa menos espaço, ou ao menos não fica bloqueando a passagem. Outro costume que deveria ser óbvio é que, ao entrar todo mundo se desloca para longe das portas, de forma a não atravancar a subida e descida das pessoas, deveria ser óbvio mas não é seguido por aqui porque quando o ônibus está lotado ninguem faz esforço para dar passagem, o que leva a outra regra básica de cortesia lá, que é a compreensão de que como o transporte coletivo vai invariavelmente ficar lotado (mais lá do que aqui, inclusive), é inevitável sofrer um empurrão ou pisão. É lógico que ninguem empurra para agredir, é apenas para passar, com a compreensão de que isso é necessário ninguém se estressa e ninguém se esforça para ficar no caminho.

Existe uma série de complicações que surgem com a densidade demográfica de Tokyo, por exemplo. Isso se materializa na quantidade enorme de pessoas que andam nas ruas ou tentam andar nos trens. Nesse cenário é comum esbarrar nos outros, mas em vez de tornar isso numa questão de honra, com xingamentos, olhares tortos como é feito por aqui, tudo é resolvido com discretos pedidos de desculpa de AMBAS as partes. Não existe a necessidade de ser respeitado de forma absoluta, o respeito vem com a reciprocidade, e é dessa consciência de reciprocidade que eu sinto mais falta. Algo que não deveria depender de lei, e na maioria dos casos que citei não é praticado em função de alguma lei japonesa, mas de bom senso, pressão social e sinalização bem posicionada.

The Lockup, Soka Chuugakkou, Hakone…

A ultima semana foi marcada por alguns eventos interessantes que tem preferência sobre a explicação das minhas aulas no segundo semestre.

Sexta-Feira fui novamente para Shibuya (virou quase um hábito semanal), dessa vez para frequentar um famoso e bizarro restaurante de Tokyo, o The Lockup, cuja temática é uma prisão mal assombrada. É necessário fazer uma reserva com antecedencia pois a quantidade de comida preparada é proporcional ao número de clientes no dia. O local fica no subsolo de um prédio na movimentada região do Center Gai. Logo na entrada é tudo escuro e com uma música assustadora, as paredes simulam pedra e são cheias de simbolos, após os primeiros passos algumas luzes piscam e todo mundo acaba levando um susto porque numa parede bem próxima existe uma cela, dentro dessa cela uma “pessoa” (na verdade um boneco muito bem feito hehe) está sentada numa cadeira elétrica e passa a balançar e ser eletrocutada  , mais a frente algumas tem armadilhas no chão que fazem o seu pé afundar enquanto outras coisas surgem do escuro geralmente com algum estampido para dar mais sustos. Na recepção os clientes são algemados às garçonetes e conduzidos por alguns corredores até o restaurante em si, que na verdade é composto de corredores com diversas celas, tudo escuro ou com luzes vermelhas e azuis, criando um ambiente meio mórbido. As mesas ficam nas celas, algumas com cadeiras,  outras em que se senta no chão. As bebidas são muito criativas, todas com nomes bizarros como Experimento Humano (人体実験), Frankenstein, veneno não sei o que, existem também algumas capsulas com 90% de alcool, coisas de alquimia em que voce mistura o seu próprio drink, outro que voce tem que amassar oreo (uma bolacha tipo negresco) para misturar na bebida, bebidas em seringa…As comidas não tem uma temática nojenta, imagino que para não tirar o apetite das pessoas, mas são bem boas. O preço é bem razoável se considerar a fama do restaurante, a qualidade e a experiencia. As bebidas especiais ficam em torno do equivalente a 10 a 12 reais cada, os pratos são entre 16 a 24 reais. O mais interessante é que no meio da refeição tem há um barulho enorme de explosão, tudo fica escuro, uma voz dá um alerta de que algo invadiu o local então pessoas vestindo roupas assustadoras e coisa do genero atacam as celas, dá pra ouvir todo mundo gritando e voce nunca sabe quando alguem vai invadir a sua…. Enfim, é uma experiencia muito diferente, comida boa, bebidas interessantes e não é especialmente caro, comi 4 tipos diferentes de pretos, bebi 3 tipos de drinks  e não gastei nem 50 reais (isso incluindo o valor que se paga pela reserva, taxa de serviço e tudo).

No dia seguinte tivemos a visita a Soka Chuugakkou, que é a escola da Soka para o que seria algo como de 5 a 8 série no Brasil. Era um sábado e um Taifuu 台風 (mais especificamente um ciclone tropical) estava para chegar, mesmo assim a visita não foi cancelada já que ocorreria pela manhã e a chegada do Taifuu seria a tarde. Os intercambistas se encontraram na estação de Hachioji com os professores. A universidade pagou nossas passagens até a escola. Estava chovendo bastante e mesmo com guarda chuva a caminhada para a escola já deixou todos encharcados. Chegando lá recebos toalhas e água e fomos divididos em grupos de crianças de 12 a 14 anos, onde respondemos as perguntas delas, conversamos e etc. Como as crianças só falam japones os intercambistas foram divididos em duplas em que um fosse de nível avançado para traduzir o que o outro dizia. Tive a “sorte” de ter como par uma americana insuportável (que por sinal tinha ido também no Lockup no dia anterior e se perdeu na estação e pegou um trem errado). Depois fomos ao ginásio onde conversamos mais e tiramos fotos e por fim ao refeitório da escola onde comemos junto com os estudantes. A experiência foi muito boa, a impressão que muita gente ficou é que aquelas crianças são mais maduras que boa parte dos estudantes da universidade haha. Conversei com mais facilidade com a minha “responsável” que tinha 13 anos do que com muita gente de 18, 19 que mora no alojamento .

Durante a semana tivemos um feriado no qual fiz um tour culinário em Shibuya, na quinta feira fiz minha primeira prova em matérias regulares da Universidade. O grande problema não era o conteúdo mas sim escrever bastante em 1h. Enquanto a maioria dos japoneses escreveu de 2 a 4 páginas e só consegui completar uma, ainda assim, na minha condição de estrangeiro acho que me saí bem, me esforcei e consegui responder em japones as diferenças entre politica interna e externa e as características dos estados ocidentais entre 1648 e 1914.

Por fim, ontem, sexta feira a universidade nos levou em mais uma viagem, dessa vez a Hakone. O tempo estava muito bom, bastante limpo então conseguimos observar o Monte Fuji, por exemplo. Visitamos dois museus, o Narukawa e o Hakone Open Air Museum. O primeiro tinha muitas pinturas do monte fuji, um museu de caleidoscópios, algumas esculturas chinesas e uma vista muito bonita para montanhas, um lago e o monte Fuji ao fundo. O outro era enorme, e como o nome diz, ao ar livre, com diversas esculturas, obras bizarras e um pavilhão com um acervo bem grande de Picasso. Após isso fomos a um buffet dentro do restaurante onde comemos por 2 horas a vontade, seguimos ao posto de inspeção de Hakone, que no passado era passagem obrigatória para quem fazia o trajeto Edo-Kyoto, e terminamos com um passeio de barco no lago Ishi, muito bonito, e com vento muito frio também 🙂

O terror do verão japonês

Agora com o fim dos exames voltei a ter tempo para escrever no blog, estou com algumas idéias em mente mas dessa vez vou falar novamente sobre algumas coisas cotidianas do Japão.

Primeiramente, sobre o clima. O verão daqui é absolutamente insuportável, é o pior calor que eu já senti na vida. No período do tsuyu (período de chuvas) a temperatura ficava entre 30 e 32 graus, mas o nível de umidade era tão alto que qualquer lugar parecia um forno. Algumas vezes a umidade era muito alta (cerca de 85, 90) que mesmo sem chover os locais ficavam molhados, e era possível ver toda essa água no ar, não era exatamente uma névoa, mas algo que deixava o ar borrado, enfim, um excesso de água no ar. Além disso a própria pele ficava com uma sensação úmida. Outro problema nesse clima é que só de por os pés para fora de locais fechados todo mundo começava a suar imediatamente, infleizmente meus conhecimentos de biologia não são suficientes para explicar porque…

Agora que o tsuyu acabou a temperatura está subindo gradualmente, nos últimos dois dias tivemos cerca de 35, 36 graus. Aqui surge outro problema para os moradores de Hachioji. Hachioji é cercada de montanhas, o que significa que o sol aquece a cidade mas o ar quente não circula, de forma que aparantemente a sensação térmica é de 40 graus. Pelo fato de estarmos em um ponto mais alto que o centro de Tokyo ainda recebemos o ar quente que vem do bolsão de calor da cidade. Enfim, com um ar quente parado desses é difícil até de respirar, e quando raramente bate um vento não ajuda em nada porque só serve para jogar ar quente na cara das pessoas.

Com o verão vieram também os insetos. Pelo que tenho visto, apesar de morar quase no meio de uma floresta não existem muitos tipos de animais grandes. Há muitos corvos (que são de uma espécie gigante por sinal), alguns gatos, pouquíssimos cachorros e eventualmente vejo tanukis (texugo) ou esquilos. Em compensação há um enorme quantidade de insetos. Vou falar apenas dos que mais me impressionam.  As vezes vejo besouros ou escaravelhos enormes, com aqueles cabeças que parecem ter chifres gigantes,  são insetos agrdáveis e interessantes, em compensação há também centopéias e gejigeji. A centopéia já é algo bem desagradável, mas o gejigeji é horrível, é como se fosse uma centopéia só com que pernas compridas, um desses apareceu dentro do nosso bloco por sinal. Outra coisa que apareceu por aqui foram vespas, e as vespas japonesas são verdadeiros monstros do tamanho de um dedo humano. Também há muitas aranhas ninjas, as vezes estou andando, pedalando ou sentado embaixo de uma árvores e derrepente, silenciosamente, essas criaturas começam a descer das árvores em fios, ou mesmo a pular em cima. Por fim há ainda as cigarras. Qualquer pessoa que já assistiu algum filme/anime japonês já ouviu o clássico som de cigarras japonesas. Bom, só posso dizer que aquilo é real, a partir do momento que o sol começa a surgir elas começam a cantar, e como aqui tem muita árvore chega um ponto que começa a encher o saco 🙂 Enfim, a experiência com animais japoneses não tem sido a melhor…

Nao consigo pensar em alguma coisa agradável no verão, tirando o ar condicionado, que existe em toda a parte. Ao menos a sensação de sair do forno a céu aberto e entrar em ambientes agradáveis é muito boa. Outra coisa que o verão proporciona é uma escalada mais fácil do Monte Fuji, já que o topo não fica muito frio. Tinhamos planejado escalar essa semana, mas estou achando que não vai acontecer. A princípio seria no sábado passado, mas ao menos no meu caso teria sido muito difícil pois passei o dia em um tour organizado pelo departamento de economia da universidade, que foi muito agradável por sinal, andamos de barco, subimos em um prédio bem alto, vistamos locais interessantes… Por sinal, sexta feira fui no museu do Studio Ghibli, e, como as obras do estúdio, é impressionante, tem um ambiente muito agradável, é uma casa cheia de escada e portas de vários tamanhos e cada sala tem um acervo muito bacana de coisas relacionadas a animação em geral, mas principalmente relacionadas às obras do Miyazaki (que alguns chamam de “Disney Japones”)…

Dia 2 eu vou viajar para Kyoto (que assim como Hachioji é muito quente pois fica no meia das montanhas =/ ) junto com um colega coreano do alojamento. Conseguimos um local muito barato para ficar, devemos passar cerca de 10 dias por lá, aproveitando para visitar também Osaka, Nara, Himeji e quem sabe outras cidades da região. Pretendemos viajar para lá usando um passe especial de trem chamado Seishun 18 Kippu, e lá pretendemos utilizar outro passe chamado Kansai Surutto. Após a viagem explicarei melhor o funcionamento dos passes e se realmente vale a pena usar.

(Fotos dos passeios que tenho feito e de paisagens de verão em geral estão no meu orkut)