Agora que sou oficialmente bolsista do MEXT, e tendo conversado com outros bolsistas, passado por todo o processo seletivo sempre refletindo sobre o seu funcionamento, acredito que posso dar dicas e fazer uma breve explicação de como é possível obter a Bolsa do MEXT e porque vale muito a pena estudar no Japão.
A Bolsa do MEXT é uma bolsa de estudos oferecida pelo Ministério da Educação do Japão para curso técnico, graduação e pós graduação a partir de um processo seletivo que se inicia por meio dos Consulados no Brasil, passa pelas Universidades e pelo Ministério da Educação em uma forma de ingresso universitário chamado Ingresso por Recomendação. A bolsa tem um valor de cerca de 145 mil ienes por mês, paga passagem de avião de ida e volta e isenção das taxas escolares, e pode durar a pesquisa, mestrado e doutorado. Creio que é a melhor bolsa disponível para qualquer país, e isso já é um bom motivo para ir ao Japão. Não é preciso saber nada sobre o país e, via de regra nada do idioma, ou seja, não é preciso ter medo, é preciso tentar.
Tendo sido aprovado na Pós-Graduação pela representação de Curitiba, minha experiência é voltada a esse processo em específico, mas creio que em grande parte as dicas valem para qualquer lugar. Para informações sobre o que faz um pesquisador em seu primeiro ano do Japão, escrevi um post sobre isso: https://eduardompa.wordpress.com/2014/04/21/atividades-de-pesquisa-na-universidade-de-tokyo/
A primeira coisa a se fazer é acessar o site do Consulado em sua jurisdição e ver as informações, datas e ler atentamente o Edital. Segue o link da página do Consulado de Curitiba: http://www.curitiba.br.emb-japan.go.jp/bolsa1.html
As inscrições começam dia 2 de maio e terminam dia 29 de maio. É preciso preparar uma quantidade grande de documentos então melhor não deixar para última hora. O Consulado de Curitiba ainda realiza palestras explicativas da bolsa (as datas estão aqui http://www.curitiba.br.emb-japan.go.jp/press/20140407press-palestra-mext-pt.pdf) e atendimento pessoal com o Orientador das bolsas nas seguintes Datas: 17 (qui), 25 (sex) e 30 (qua) de abril Horário: das 14:00 às 17:30. É importante dominar bem as informações oficiais, e essas são as melhores fontes e não vou ficar mastigando a informação já disponível. O pessoal do Consulado é extremamente atencioso e competente, e as informações que fornecem já podem ser suficientes para muitos candidatos. O que vou falar agora são algumas dicas do processo de Research/Graduate Student que acredito podem ajudar na aprovação, ou pelo menos esclarecer melhor quem se sente meio perdido.
1) As provas
Não existe segredo para a prova do processo seletivo. A de inglês é absolutamente obrigatória e lembra muito o TOEFL, ou seja, não exige muito estudo e sim um conhecimento mas natural do idioma. A de japonês é opcional, ou melhor, deve ser feita, mas a nota não é tão relevante (porém de acordo com o próprio edital áreas que exigem o domínio da língua como Direito e Literatura tornam essa prova muito importante). Alguns modelos de provas até 2010 estão no seguinte site, e creio que é o suficiente para estudar: http://www.studyjapan.go.jp/en/toj/toj0308e.html
* No último ano caíram alguns kanji para escrever, diferente das provas modelos, então é sempre bom dar uma praticada
2) Projeto de Pesquisa
O projeto de pesquisa é, aparentemente, a parte mais importante. O ideal é já ter algo bem pensado bem antes do processo seletivo. Na hora de pensar em um tema é importante ter em mente algumas coisas:
a) Porque essa pesquisa deve ser conduzida no Japão?
b) Existe espaço para essa pesquisa no Japão?
c) Existem Universidades e Professores que orientem esse tipo de estudo?
Para solucionar essas dúvidas existem vários sites para busca de teses e Universidades (links ao final do artigo!), mas uma técnica bastante eficiente é enviar emails para Universidades e, especialmente, Professores , explicando que vai tentar a bolsa do MEXT, com seu projeto em anexo, perguntando a opinião deles, se orientariam algo do gênero ou se conhecem alguém interessado. Eu diria que 40% talvez não respondam, mas no meu caso, os outros 60% responderam sempre com muita educação e entusiasmo, alguns explicando porque não podem, outros se mostrando interessados de antemão na orientação. Ter um email desse tipo em mãos pode até não fazer diferença na seleção, mas dá a confiança de que você está no caminho certo, afinal, se um professor japonês quer te orientar você já sabe que seu projeto é viável e é bem aceito no Japão.
Além disso, no ato de inscrição é preciso selecionar três Universidades e três orientadores, e você não quer correr o risco de ser aprovado nas provas e descobrir só depois que os que você escolheu não tem interesse.
3) A entrevista
A entrevista não tem segredo, não tem pegadinha. Se você sabe bem o que quer pesquisar, sabe porque é importante e porque é necessário, nenhuma pergunta vai te surpreender. Não é uma situação para fingir que sabe, para fingir que está preparado. Se você está preparado, se tem condições psicológicas de morar em outros país, conduzir a pesquisa em outro idioma, vai mostrar isso naturalmente. Dito isso, a entrevista é conduzida em dois idiomas, portugues-japonês ou português-inglês, dependendo da sua proficiência. Não dou mais detalhes porque o objetivo da entrevista é justamente testar o preparo, e se alguém já chega sabendo o que vai encontrar em detalhes não vai se expressar de forma genuína.
4) A Fase das Universidades
Acho que é a segunda fase mais tensa de todas. Na hora de enviar sua inscrição você seleciona três Universidades e três orientadores, e se aprovado é preciso enviar a documentação de aprovação ao Japão. Cada Universidade tem um processo diferente. Em algumas a documentação vai para as mãos do orientador e eles faz tudo para você (por exemplo, Tsukuba). Em outras, a documentação é enviada ao departamento, que realiza os procedimentos necessários e um processo seletivo interno (Waseda e Todai, por exemplo). Algumas pedem exatamente a mesma documentação da inscrição, outras, como a Todai, pedem um conjunto completamente diferente de documentos e até mesmo outro formato de Projeto de Pesquisa. Lembro ainda que em Direito as universidades pedem certificado de aprovação no JLPT N1, declaração equivalente ou superior.
Para saber exatamente como deve fazer basta mandar um email para o departamento de assuntos internacionais da Universidade ou procurar na página dela ou de seu departamento o procedimento MEXT. As Universidades geralmente tem uma página com todas as orientações. (basta colocar no google algo como “Waseda MEXT application”, por exemplo)
Entre o envio da documentação e a resposta demora um ou dois meses, e documentação suplementar pode ser pedida. Por exemplo, Waseda me informou que os três professores estavam indisponíveis, então me deram uma lista mais atual. Ou seja, existe alguma flexibilidade.
Lá por outubro chegam as respostas. No meu caso recebi a resposta de Waseda e Todai quase no mesmo dia. Alguns recebem respostas bem cedo, outros em cima do prazo, não dá para se desesperar (mas admito que mandei emails perguntando, e fui muito bem atendido, nada daquele suposto rigor e terror burocrático japonês haha).
5) A Fase MEXT
Nessa fase o candidato não faz nada, apenas espera, e portanto é a fase mais estressante de todas. É uma espera que dura de Novembro até Fevereiro, e fica em mãos do poder discricionário do MEXT decidir se você vai ou não e para onde vai. Ou seja, mesmo aprovado em tudo, você pode cair nessa fase, e só vai saber no último momento. Mesmo tendo recebido contato da Todai no dia 25 de dezembro (presente de Natal!) me informando que decidiram minha moradia, não sosseguei até receber o telefonema do Consulado no final de Fevereiro.
Essas são as dicas gerais que tenho para dar. Fico a disposição para esclarecer dúvidas na seção de comentários (e cujas respostas serão incluídas no post). Para informações muito melhores e um FAQ excelente, existe uma página no facebook de bolsistas e aspirantes: https://www.facebook.com/groups/443590372369376/ (a comunidade é fechada, então quem quiser participar terá que pedir para que eu adicione).
Dessa mesma página indico os seguintes links de bancos de dados de teses, universidades e professores. Foi a partir desses links que localizei professores com minha linha de pesquisa. Outra forma que busquei foi colocar palavras chaves da pesquisa no google junto com “Japan”. Muitas vezes caí em páginas de think-tanks ou órgãos do governo e eventos com professores especialistas na área, depois é só usar técnicas de google para achar emails e arriscar o contato:
– Guide to Japanese universities and colleges by The JapanTimes:
http://info.japantimes.co.jp/universities/japanese_universities.html#.UoeCipR5y1B
CiNii: sites do CiNii, base de dados do Nii (National Institute of Informatics 国立情報学研究所)
– CiNii Articles 日本の論文をさがす: http://ci.nii.ac.jp/
– CiNii Books 大学図書館の本をさがす: http://ci.nii.ac.jp/books/
– ReaD & Researchmap : http://researchmap.jp/ ou http://read.jst.go.jp/
Parecido com a Plataforma Lattes no Brasil, o ReaD & Researchmap é uma base de dados com informações sobre os pesquisadores japoneses.
– J-Global: http://jglobal.jst.go.jp/
Assim como o ReaD & Researchmap, o J-Global é uma basa de dados que contém pesquisadores, temas de pesquisa, referências bicliográfias e muitas outras informações úteis.
– GeNII NII学術コンテンツ・ポータル: http://ge.nii.ac.jp/genii/jsp/index.jsp
– 国文学論文目録データベース: http://base1.nijl.ac.jp/infolib/meta_pub/RBNDefault.exe?DEF_XSL=default&GRP_ID=G0000307&DB_ID=G0000307RBN&IS_TYPE=meta&IS_STYLE=default
– 近代デジタルライブラリ: http://kindai.ndl.go.jp/