Anki, uma obsessão

Lá pelo final de 2009, começo de 2010, férias, foi um período em que usei muito o Anki no nível mais hardcore que além da leitura envolvia também a cópia das cartas à mão. O objetivo não era ficar bonito, era memorizar a sequência dos traços dos kanji e as própias cartas, claro. Em menos de uma semana, meu bloco de notas ficava mais ou menos assim:

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Hoje já não tenho paciência e empenho para isso, mas foi muito útil, recomendo para quem está começando.

Nihongo: do básico ao N1 – Parte 2

Na parte 1 dessa série Nihongo: do básico ao N1 (link para a parte 1 aqui) falei do início do aprendizado, de algumas técnica e dificuldades iniciais e do que denominei “crise dos três anos”, na qual o estudante estudou muito e parece não saber nada.

Na parte 1.5 (link aqui) falei em maior detalhe dos dicionários.

Nessa parte 2 vou falar do confronto com a crise de aprendizado intermediário, sua superação, e na parte 3 falarei da preparação para o JLPT N1(Japanese Language Proficiency Test, 日本語能力試験, Exame de Proficiência em Japonês e etc…) de forma mais específica

1) Domínio do básico

Quem quer sair do nível básico do japonês e entrar em um nível intermediário (não no parâmetro dos cursos, mas de entendimento), precisa ter um domínio dos conceitos, conjugações, vocabulários básicos do idioma. Parece óbvio, mas não é para muitos. Alguns estudantes querem compreender nuances complexas da língua sem saber “de cabeça” questões elementares da gramática como forma -te, passado, grupos verbais e etc… Mas por saber de cabeça não quero dizer necessariamente saber explicar a regra, mas sim saber aplicá-la automaticamente. Assim como conjugamos em português sem ficar pensando na tabela de conjugação, é preciso chegar nesse nível automatizado no japonês.

O problema é, como fazer isso? Em certo ponto eu estava lidando com materiais e livros com estruturas e vocabulários complexos, conseguia superar esses textos, mas o conhecimento não se fixava, não atingia fluidez, facilidade, sempre tinha que consultar novamente as palavras não tão novas, decompor algumas conjugações para entender determinada expressão (em vez de identificar automaticamente dentro da própria palavra conjugada). Além de tudo isso, o volume de kanji, subindo para 500, 600 se tornava impossível para mim. Enfim, não bastava conhecer o idioma, era preciso internalizá-lo.

2) Como internalizar? Anki.

A maioria das técnicas tradicionais (materiais didáticos, repetições e etc) tiveram um limite para mim. Eu precisava ter contato com materiais novos, livros, filmes sem legenda, artigos científicos, mas isso só é possível se essas atividades fluírem, ninguém aguenta, depois de 3, 4 anos de idioma, gastar 30 minutos para ler uma página, ou se iludir de que entendeu completamente um diálogo de programa de TV.

A solução que encontrei foi o Anki, um software gratuito de flash cards que mudou minha perspectiva de aprendizado de idiomas (já escrevi bastante sobre esse programa nesses posts aqui, em detalhe, aqui falarei de forma mais geral). Mas não um uso aleatório do programa, primeiro passei 1 mês lendo sobre esse programa, sobre seu percursor Super Memo, qual a lógica de seu funcionamento, quais as melhores formas de elaborar cartas. Dividi então o aprendizado em 3 fases: Método Heisig, notícias, materiais de interesse.

   a) Método Heisig

O método Heisig é um método criado por James Heisig no livro Remembering The Kanji. A ideia do primeiro volume é simples, estudar 3000 kanji a partir do significado “deduzido” da história contada pelo desenho do kanji e seus radicais, ignorando as diversas leituras do ideograma. A lógica é que, ao tentar decorar as leituras e a forma de escrever você acaba se sobrecarregando de informações. É mais fácil aprender primeiro significados e as formas, tendo visto todos os kanjis, acaba a sensação de surpresa, você percebe que existe uma padrão de repetição de formas, e depois, considerando que as leituras em grande parte das vezes tem relação com os radicais, se torna muito mais fácil memorizá-las. (se houver interesse no método, comentem que escrevo mais sobre isso)

Na época estabeleci a meta: em 3 meses colocaria no Anki 2000 kanjis, criaria minhas próprias frases (para facilitar a memorização), dedicação exclusiva ao significado, e sempre com um papel do lado, escrevendo TODOS os Kanjis, inclusive nas revisões. Foi um período bem pesado, com pelo menos duas horas por dia inserindo cartas e revisando. Seguem dois exemplos de carta que fiz:

Como o kanji 大 significa grande e os 口 parece caixas, a frase faz sentido para mim.

Como o kanji 大 significa grande e os 口 parece caixas, a frase faz sentido para mim.

anki planice

Como 原 significa campo, planíce, e temos o radical de água do lado, fica mais fácil de lembrar, desde que conhecendo bem os elementos que compõe o Kanji.

b) Notícias

Familiarizado com uma base considerável de significados de kanji, passei a testar esse novo conhecimento com notícias, por meio de uma seleção diária em jornais como Yomiuri e Asahi, selecionando frases com palavras que considerava essenciais no aprendizado. Conhecendo o significado de muitos ideogramas, me restava apenas aprender a leitura e compreender as sutilezas do uso da palavra. Esse método tem a vantagem de ser rápido. Ctrl-C na notícia, Ctrl-V no Anki e pronto, você já tem a leitura automaticamente no programa (conforme tutorial que fiz no blog). Para as palavras desconhecidas, copia-e-cola no dicionário do yahoo.jp e pronto, já tinha além do significado em inglês, significado em nihongo e muitas frases de exemplo. O avanço no vocabulário e a melhoria na velocidade e fluidez da leitura foi visível em pouco tempo.

Trecho de uma notícia. Na frente da carta a frase retirada do jornal, no verso a leitura dos kanjis e com asterisco o significado tirado do dicionário de "kokugo" do yahoo.

Trecho de uma notícia. Na frente da carta a frase retirada do jornal, no verso a leitura dos kanjis e com asterisco o significado tirado do dicionário de “kokugo” do yahoo.

c) Materiais de Interesse

Por materiais de interesse considerei em primeiro lugar materiais de entretenimento: Filmes, Anime, Jogos (para quem gosta, música deve ser uma ótima forma). É um excelente método para a fixação dos conteúdos, mas é mais demorado que cópia das notícias porque, via de regra nesses caso é preciso, no caso de um filme ou anime, captar bem o diálogo, por exemplo, e transcrever, ou no caso de um jogo é preciso passar o texto para o anki, e nesse caso se você não sabe a leitura do Kanji vai perder algum tempo a mais com o dicionários de kanji (ou denshi jisho) para aprender a leitura.

Com base nessas “técnicas” consegui estabelecer um regime de estudo autodidata, que levei comigo para o Japão, onde o contato e internalização o idioma passou ao regime 24h. É sobre essa fase, e sobre os estudos específicos para o JLPT que vou falar no próximo post da série.

Tutorial Anki – Furigana Automático

A funcionalidade de furigana automático vinha inclusa nas versões antigas no Anki, mas já faz alguns anos que se tornou um simples add-on. Apesar da forma de instalação não ser nenhum segredo (https://ankiweb.net/shared/info/3918629684), esse post me parece necessário pois muita gente não faz ideia da existência dessa função.

Explicando melhor, o Anki possui vários tipos de modelos de carta. Originalmente é fornecido apenas o básico:

Basic-Note-Type-Anki-2

Conforme a imagem, possui apenas os campos front e back.

Entretanto, com a instalação do suporte japonês os campos mudam para expression, reading e meaning:

japanese anki

Não se trata apenas de uma mudança de nomes. Ao inserir o kanji no campo expression, o programa gera sua leitura automaticamente no campo reading (depois de digitar a palavra basta clicar no outro campo para gerar o furigana).

O sistema não é só vantajoso no ganho de tempo de preenchimento, mas especialmente pela função de dicionário de leitura, acabando com a dificuldade de descobrir a leitura de alguma palavras complexas (um problema grande antes do surgimento de ferramentas como rikaichan/kun).

A instalação desse modelo de carta é simples. Basta:

1) clicar em “tools” (ou ferramentas)

2) selecionar add-ons

3) inserir o código 3918629684 ou fazer a busca manual pelo add-on “Japanese Support”

4) Após concluir o download e instalação, basta entrar no deck de anki, selecionar “add” ( mesmo procedimento de adicionar cartas)

5) no campo superior esquerdo, clicar ao lado de “type”, onde provavelmente estará escrito basic

6) na caixa que vai abrir é só selecionar “manage”

7) depois “add” novamente, selecionar “japanese”, adicionar e selecionar como tipo padrão de carta.

Pronto, o usuário tem acesso à carta de japonês do Anki clássico.

Caso alguém não tenha entendido, ou caso utilize o anki em outro idioma, posso melhorar as instruções aqui. Comentem, pois qualquer alteração só acontecerá, a princípio, “on demand”.

Como eu estudo – Parte 3 – Anki e Nihongo

Devido a semanas de provas esse post acabou atrasando um pouco, mas chegou a hora de finalizar a trilogia do Anki explicando como eu uso para estudar Nihongo.

A princípio o Anki surgiu para mim como uma forma de melhorar meu conhecimento de Kanji, e foi nesse aspecto que foquei a princípio. Decidi começar criando um Deck relacionado apenas a livro Remembering the Kanji, que se baseia em uma idéia interessante. Os kanjis “funcionam” mais ou menos da seguinte forma, cada ideograma tem um significado (as vezes mais de um, mas em geral semelhantes) e mais de uma leitura (algumas vezes duas, algumas vezes mais de 4). Geralmente se estuda Kanji aprendendo a ler, escrever (a ordem correta dos traços também é muito importante) e compreender o significado, ou seja, cada kanji contém uma grande quantidade de informação a ser decorada. Considerando que para ler um jornal em geral é preciso conhecer entre 1500 e 2000 kanjis, dá para imaginar o trabalho. Votando a idéia do livro, o autor sugere que se decore apenas um significado de cada kanji e como escrever, nada de leituras e significados diferentes. E o significado vai ser aprendido a partir de uma “história”, que seria uma espécie de frase que explicaria o kanji com base em seus elementos. Por exemplo, o kanji 書 significa “escrever”, é composto de duas partes, a de cima lembra o kanji de “pincel” 筆 e a de baixo é o kanji “dia” 日, logo uma história possível seria “É melhor usar o pincel para escrever durante o dia”.

Enfim, seguindo essa idéia geral criei mais de 2000 cartas nesse estilo, o que me deu uma familiaridade muito grande com kanji, apesar de não saber as leituras da maioria ao menos ficaria bem mais fácil de lembrar os significados e a forma de escrever. De qualquer forma, foi uma opção minha criar esse tipo de carta com a intenção de testar o anki, alguns meses depois abandonei o deck e parti para o uso mais sério.

O segundo Deck, onde surgiu meu modelo definitivo de carta segue algumas premissas. Em primeiro lugar, eu não adiciono palavras isoladas para relembrar a leitura ou significado de kanjis, ou simplesmente para lembrar vocabulário. Todas as cartas que crio são frases. Os motivo é simples, a frase não apenas contém muito mais elementos do que o mero vocabulário como ainda ensina a utilizar de forma adequada gramaticalmente, revela o contexto em que a palavra pode ser utilizada e consequentemente contem construções gramaticais. Pensando no idioma portugues, imagine um estrangeiro que aprenda a palavra “gostar”, por si só a palavra acaba sendo inútil já que sem uma frase de exemplo ele não saberá que esse verbo deve ser seguid por “de”.

Outra vantagem das frases é que, como disse em um post anterior, o Anki, por ser uma revisão diária as vezes pesada, deve ser divertido, não só para que seja suportável revisar todo dia mas para que se torne mais eficiente. É muito mais fácil lembrar determinado vocabulário ou construção gramatical dentro de uma frase engraçada, interessante,letra de música ou dentro de um diálogo de algum filme ou livro que você goste. Isso porque além de aprender como usar existe o incentivo de querer aprender, de querer saber usar aquilo, seja por sua utilidade seja pela afinidade com a expressão.

Então resumindo a vantagem do uso de frases no anki teremos: Uma frase em japonês irá conter vocabulário, kanji, gramática, o correto uso de todos esses elementos e o incentivo de querer revisar, de querer lembrar. No quesito compreensão de texto é muito bom pois aprende-se a ter familiaridade com sentenças corretas no idioma. No que diz respeito ao uso da lingua para se comunicar é muito bom pois ao se decorar determinados padrões não é preciso ficar pensando em como usar gramática cada vez que se abre a boca para falar algo, não é necessário construir uma frase mas apenas usar alguma que já se sabe e trocar as palavras para dar o sentido desejado. Quanto ao Kanji, é excelente para aprender as leituras, e quando se escreve o kanji ao fazer as revisões é possível fazer o estudo completo do ideograma.

Assim como no uso para o Direito, em Japonês as frases também devem ser curtas, e talvez a parte mais importante na criação das cartas seja a busca pelas frases corretas. Em primeiro lugar é preciso evitar frases de livros didáticos básicos e intermediários, já que o interesse no uso do Anki nesse caso é aprender o idioma, e todos sabemos que boa parte das frases de livros didáticos são gramaticalmente corretas mas não soam naturais. O estudo da gramática e da linguística de um idioma pode ser feito com mais eficiência fora do Anki, ele é muito mais propício para internalizar esse conhecimento e tornar possível seu uso. É melhor decorar como um personagem em filme, anime ou livro se apresenta para um novo amigo, ou em uma situação formal real do que criar uma carta dizendo “Olá, como vai? Meu nome é Eduardo, tenho 22 anos, muito prazer em te conhecer”…

Enfim, essa é a base do meu uso do Anki, tem muitos outros detalhes que aprendi pesquisando e tentando, mas acho que o melhor é parar por aqui, e esperar quem tiver interesse tentar se orientar por essa base. Se houverem dúvidas perguntem que eu responderei, se eu lembrar de algum outro assunto relevante criarei um post específico para o tema. Depois de mais de 3 meses aqui tive muito tempo para pensar em algumas peculiaridades do idioma que talvez sejam mais interessantes do que métodos, e ainda existem alguns pedidos de post que estão pendentes, logo, a trilogia do Anki fica por aqui.

Para quem tiver interesse, me baseei nos seguintes sites para desenvolver esse método:

AJATT

http://www.antimoon.com/

http://www.supermemo.com/

Como eu estudo – Parte 2 – Anki e o Direito

Continuando o último post, e indo direto aos resultados da experiência que mencionei, o que ocorreu foi o seguinte: Na Faculdade de Direito obtive uma média geral maior que 9,0 no primeiro semestre. Considerando ser o 4º de Direito, que dizem ser o mais difícil dentro da UFPR foi para mim a prova definitiva da utilidade do anki, especialmente depois que meu resultado no segundo semestre sem o usar o método me levou a uma média, se não me engano, menor que 8,0.

Quanto ao idioma japonês… bom, sempre me considerei como alguém com muita dificuldade em kanji, sempre sofrendo para decorar os mais simples. Depois de usar o anki os Kanjis se tornaram a parte mais fácil, por incrível que pareça. Seja na escrita ou nas diversas leituras, eu diria que 90% das pessoas sofrem e reclamam da dificuldade, depois do Anki os kanjis se tornaram mais fáceis, bem menos preocupantes que gramática e expressões.

Agora vou entrar nos detalhes de como tornei o estudo com os flashcards eficiente, afinal, não basta apenas baixar o programa e usar aleatoriamente, foi preciso definir alguns princípios:

1) Criar os próprios cartões é essencial, o anki oferece vários barallhos prontos, oferece opções de transferir para outras pessoas, mas isso é um erro enorme, se você não usa seu próprio deck não vai servir para nada. Isso porque tanto o processo de busca de informação como o processo efetivo de digitar cada cartão corresponde a mais de 50% do aprendizado, creio eu.

2) As revisões devem ser feitas todos os dias, isso pode levar tempo, mas nunca mais do que 30 minutos. Muita gente pode dizer que não tem tempo, que é difícil, mas aprender exige compromentimento. Ao menos duas vezes por semana eu saía de casa as 6:30 da manhã e voltava as 22h e nem por isso deixava de fazer minhas revisões.

3) Pelo fato de exigir tempo o anki é uma ótima forma de aprender a administrar o próprio tempo, achar o equilibrio entre quanto se dedicar para procurar informações, adicionar e revisar é muito importante.

Passadas essas dicas gerais, vamos a prática de verdade.

Meus cartões de direito eram 90% do estilo a) preencha as lacunas, de preferência curtos. Nem sempre é possível usar esse modelo, e nem sempre é possível fazer cartas curtas, de forma que por necessidade algumas acabavam se tornando b) perguntas de um lado e respostas do outro, ou ainda c) metade de uma frase de um lado e metade de uma frase do outro, há também os cartões com d) uma idéia ou conceito de um lado e explicação ou conceituação do outro. São modelos também efetivos, mas não tanto quanto o de preencher lacunas. Também há o modelo em que escrevo e) uma data de um lado e o acontecimento do outro, esse é um dos modelos que menos gosto mas as vezes é necessários. Por fim também usava cartões em que f) a frente diz que há tantas causas, formas, modelos e etc e no verso, sabendo o número, eu deveria nomear todosVou mostrar alguns exemplos:

a) Frente —> A terceirização pressiona a _______ do salário, não é ___________ por lei mas por jurisprudência; Verso —> redução, regulamentada

b) Frente —> O que é sistema?; Verso —> Conjunto destinado a um ordenamento de elementos em relação para compreede-los

c) Frente —> Sistema Germanico – Não cumprimento da autocomposição acarretava em ….; Verso —> resolução pelo duelo

d) Frente —> Lex Valeria de Provocationes; Verso —> Possibilita recurso dirigido a assembléia popular buscando reforma de decisão que condenou a morte ou substituição por exílio perpétuo.

e) Frente —> Roma – 753 a.C. ; Verso —> Autocomposição dos conflitos

f) Frente —> Sistema Germânico : Duas formas de auto composição ;  Verso —> Vergeld – Pagar o preço da honra e Virdgeld – Preço do dano material

Algo muito importante na memorização é relacionar cada lembrança a uma sensação, especialmente diversão, mas infelizmente o Direito raramente é divertido, então para que as cartas funcionem elas tem que ser fáceis de lembrar, não basta retirar qualquer palavra para criar lacunas, não basta inventar perguntas com respostas muito longas, conceitos complexos demais, causas demais para numerar… Tudo deve ser pensado de forma que seja feito um esforço para responder antes de ver o verso, mas sem que seja difícil demais de forma que voce precise ver o verso para responder.

Muitas vezes quando me deparava com cartas muito complicadas tinha que deletá-las ou reformular o formato. É muito importante não ter medo de deletar cartas ruins ou refazer. É muito importante não fazer cartas simples demais que só tomam tempo de criação e revisão.

Após ver isso todo mundo vai pensar que é esforço demais usar o anki. De fato exige tempo e dedicação é não é essencial para passar de ano e aprender coisas com as quais temos muita afinidade ou contato diário, mas o que ele dá em troca pode compensar. Ele diminui muito o stress antes das provas pois em vez de ter que me desesperar para aprender tudo em um ou dois dias em geral já estava com o conhecimento consolidado não só pelas revisões dárias do anki, mas pelo próprio esforço de selecionar as informações essenciais, estudar, pesquisar, de forma que o meu tempo de estudo em véspera de prova foi reduzido no mínimo pela metade. Outra vantagem é a memória de longo prazo. Geralmente quando estudamos em véspera de prova no dia seguinte o conhecimento foi perdido, com o anki ele dura muito mais tempo. No segundo semestre algumas matérias tinham conteúdo cumulativo, e até o fim ainda fui capaz de lembrar coisas do primeiro bimestre sem precisar estudar.

Enfim, o anki torna conhecimentos importantes que não temos contato todo dia em algo cotidiano, então há um esforço natural de memorização, e esse ponto é essencial no estudo de kanji, afinal, os japoneses entendem bem pois tem contato diário com eles, com esse método podemos nos aproximar dessa experiência. O método aplicado ao idioma ficará para o próximo post.

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Como eu estudo – Parte 1 – A História do meu método

Em um dos posts anteriores falei como é a visão geral dos estudos no Japão, entretanto, como eu tenho alguns métodos bastante particulares de estudo, acho que chegou a hora de falar um pouco deles, especialmente porque os resultados tem se revelado muito satisfatórios.

Comecei a estudar japonês a alguns anos no Curso de Línguas Estrangeiras Oyama. Sempre adorei o método praticado lá, no qual, apesar da existência de turmas o avanço é individual, os professores atendem aluno por aluno na aula e designam tarefas enquanto não estiverem acompanhando certa pessoa. As vantagens do método são muito grandes, cada um avança no próprio ritmo, não perde tempo com o que já sabe, pode ficar mais tempo estudando o que tem dificuldade, tem contato com conteúdo avançado de alguns colegas, revisa o que já viu com as explicações para outros e dá a liberdade para estudar temas fora dos moldes dos livros didáticos. A grande relevância disso para meu método atual é que aprendi lá que aprender um idioma é algo que depende completamente de esforço individual, fora da sala de aula, a orientação é indispensável, mas se você não levar a sério nunca vai aprender nada. Quanta gente não tem diploma de “inglês avançado” e não sabe absolutamente nada? Enfim, escolas de idioma deveriam ser como a escola da Oyama sensei, com um ótimo método, com ótimos professores, com respeito as necessidades individuais e não uma mera sequência de lições (que é também necessária mas não basta) que trata os alunos como se todos tivessem as mesmas facilidades e dificuldades…

Dito isso, confesso que nem sempre me esforcei o suficiente fora de aula de forma que meu aprendizado apesar de rápido nem sempre era o suficiente para memorizar milhares kanjis e as centenas de expressões do idioma japonês, até que um dia ouvi falar sobre o Anki. O Anki (que significa memorização em japones) é um software que se baseia no uso de flashcards, mas utilizando um algoritmo para programar revisões. Explicando melhor, flashcards são aqueles cartões que as pessoas fazem para memorizar as coisas, com uma pergunta de um lado e uma resposta do outro. É um método muito bom, mas conforme o número de cartões aumenta as revisões se tornam cada vez mais longas, muitas coisas já sabemos mas continuam a fazer quantidade pois sabemos que talvez da próxima vez não vamos lembrar mais. Aí entra o algoritmo das revisões no anki. Toda vez que voce ve um cartão tem que dizer se foi dificil, fácil ou muito fácil, com base nessa resposta ele vai calcular quando voce precisa ver de novo a carta. Na primeira vez geralmente vai ser em 8h, na segunda vez 2 dias, depois 5, e assim por diante.

A questão é: como ele pode saber o intervalo necessário de tempo? Com base em que o algoritmo foi criado? Buscando as origens do Anki cheguei ao Supermemo, o programa pioneiro desse método criado por Piotr Wosniak. Ele estudou o funcionamento do cérebro, em especial no que se refere a biologia molecular relacionada à memória. Quando aprendemos algo os neurônios fazem uma ligação, e aos poucos essa ligação vai se desfazendo, se ela se desfizer completamente relembrar fica muito difícil, se revemos essa informação antes da ligação se desfazer ela se torna mais forte. Assim, não basta pegar certa informação e repetir diversas vezes em um curto espaço de tempo pois isso não vai influenciar a força que a ligação vai se formar, é preciso reve-la periodicamente. Outro fator que influencia na força da ligação é relacionar certa memória a uma emoção. É mais fácil aprender coisas se divertindo, com jogos, da mesma forma como é mais difícil esquercer coisas tristes e dolorosas. Com base no primeiro fator, o do tempo, Piotr Wosniak desenvolveu o algoritmo do super memo, de forma que ele programe as revisões nos melhores momentos para que as ligações seja reforçadas, assim não perdemos tempo revendo coisas que já sabemos bem e não deixamos que as ligaçõe se desfaçam e todo o esforço seja jogado fora. Teoricamente esse método gera um aproveitamento de 93% (ou algo assim).

Eu estava meio cético, mas decidi tentar com Direito e Japonês. Direito pois o método foi pensado para conhecimentos em geral, Japonês pois me deparei na internet com o Khatzumoto, um cara que alcançou a fluência em japonês em 18 meses, morando nos EUA, utilizando de forma eficiente o método de SRS (Spaced Repetition System) desenvolvido pelo super memo. Se não me engano ele optou também pelo anki por esse ter certas funcionalidades que facilitam o uso para o Japonês.

Enfim, Khatzumoto em seu blog dá muitas dicas de como criar cartas úteis, mas também reforça bastante que o conhecimento tem que ser “divertido” para que seja mais fácil de lembrar. Não adianta só fazer cartas cansativas para decorar. Elas tem que se relacionar com coisas que voce realmente quer aprender. No caso de idiomas podem ser trechos de livro, diálogos de filmes e desenhos…

Juntando tudo que encontrei no site do super memo, especialmente com relação ao modelo das cartas (em vez de perguntas criar cartas do gênero “preencha as lacunas”) mais as dicas do Khatzumoto sobre como ir atrás de boas frases, boas ferramentas para ajudar na busca, dificuldades que poderia encontrar, erros que devemos evitar, enfim, juntando a teoria e a prática de alguém que teve sucesso com o método. Como os resultados só aparecem a longo prazo e as revisões tem que ser feitas TODOS os dias, decidi entrar de cabeça no método e me usar como cobaia. Durante 6 meses da faculdade decidi usar o método e não usar nos outros 6. Quanto ao Japonês, juntei alguns livros e ferramentas, e ajudado pela sensação de independência de aprendizado que consegui na escola da Oyama sensei, decidi testar e ver em 3 meses se haveria alguma diferença.

No próximo post contarei os resultados das experiência e mostrarei de forma mais concreta como é o meu jeito de tornar o método efetivo.